Pedreiras








MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO NA REGIÃO DE LEIRIA EM TEMPOS MEDIEVAIS

A paisagem da região de Leiria, situada no litoral estremenho português, entre as faldas das serras do chamado Maciço Calcário Estremenho (Sicó, Aire e Can-deeiros) e as manchas dunares atlânticas, onde se alongam matas de pinho bravo,encontra-se profundamente marcada pelas heranças patrimoniais do medievo. O povoamento deste espaço geográfico, mais estritamente coincidente com a bacia hidrografica do Lis e Lena, renovou-se no século XII, a partir da fundação do castelo de Leiria por iniciativa do rei D. Afonso Henriques, em 1135.
A fortaleza medieval leiriense é hoje, depois de séculos de vicissitudes e de restauros aprofundados levados a cabo no século XX, o testemunho mais eloquente desses tempos afonsinos. Nos confins do primitivo termo undecentista de Leiria, levantar-se-iam os castelos de Ourém, de Porto de Mós e, mais tardiamente, de Alcobaça. Os exércitos do rei e dos nobres que o acolitavam, os cavaleiros das Ordens Militares, sobremodo templários e hospitalários, e a força armada garantida porcavaleiros-vilãos garantiram a defesa do território, apropriando-se das melhoresterras, matas e orestas, concedendo-as, depois, em préstamos e a foros.
Multiplicavam-se, neste espaço, as alternativas e os recursos para o levantamento de forticações, de vilas e de edifícios monumentais. Abundavam, como ainda hoje, os calcários e os liozes, assim como os basaltos e os saibros, que foram densamenteusados na construção dos castelos, de muralhas, de pontes e do casario vilão dasvilas de toda a região. Não escasseavam, ainda, as argilas – tão usadas pelos olei-ros medievos para fabrico de telha, tijoleira e utensílios domésticos –, as areias aluvionares ou mesmo as marinhas, mais salitradas, e, finalmente, as madeiras emque predominavam os pinhos manso e bravio.
A exploração dos calcários, foi muito intensa, neste espaço, nos séculos medievais, permitindo escalas de construção monumental ,notáveis, como sucedeu  com os Mosteiros de Alcobaça e da Batalha.
 As pedreiras eram propriedade régia. Não dispomos de informação documental suficiente para cartografar essas jazidas exploradas naquele tempo,  mas sabe-se que, na sua maioria, tinham lugar nas encostas das Serras de Aire e Candeeiros, tendo Porto de Mós como centro principal de extração. Desse calcário cozido em fornos, a altas temperaturas, se fazia cal necessária à construção civil.
As pedreiras tinham diferentes qualidades de pedra. Sabemos, que,  por 1438, se apreciava a pedra do termo de Turquel (Alcobaça) para o fabrico de mós. Nem toda a pedra, com efeito, se prestava a este tipo de uso. Em 1456 para execuçãode um túmulo real, no Mosteiro da Batalha, encomendava-se a recolha da pedra necessária a um canteiro morador no Alqueidão da Serra (Porto de Mós)
Do subsolo, explorava-se tambem margas, úteis ao enriquecimento da capacidade produtiva de alguns solos.
Em 1467, Catarina Eanes, mulher de Álvaro Gonçalves, vendeu uma propriedade na Quinta do Pinheiro (Batalha) a qual  cava  “contra onde tira ho barro e entesta com a dicta casa do forno em palheiro da dicta quintã”.
Em 1510, referem-se os “barreiros” junto de Torre de Magueixa (Reguengo do Fetal)
O atual lugar de Cruz da Areia, a sul da cidade, era designado, por 1500, como sítio da Areia dos Vasos, denunciando a recolha, nesse espaço, de areias para as olarias. Encontramos fornos de cal e de telha, em 1392, no lugar de Caldelas ao Soutosico. Junto a Alcanada, em 1492, refere-se um sítio conhecido por Cal Viva. Em Vale Bom, junto a Leiria, existiam, no ano de 1513, uns fornos de cal.
Data de 1499 a entrega, por D. Manuel I, ao Mosteiro da Batalha, dos “chaãos, fornos de cal e telheiros que “Nos temos e avemos no dito Moesteiro da Batalha, scilicet, dentro na povoaçam delle e ha d’arredor os quaaes forom comprados pera servidom das obras”.
Regista-se, pela mesma época, nas proximidades da Batalha, os topónimos Forneiros e Fornaria. Estes fornos, de cal ou de telha e olarias, consumiam largas quantidades de lenha e tojo, encontrando-se notícias de indivíduos associados a essa tarefa como Pedro Tugeiro em documento de 1189, e, bem mais tarde, em 1308, um Pedro Eanes Togeiro.

Em 1721, Brás Raposo da Fonseca, em memória enviada à Academia da História, valorizava esta região pelos seus recursos, citamos, de: “Cal, pedras lioses e brancas e cantaria, areas e saibros, em poucas partes há melhores. Minas de azeviche e de pedras transparentes de varias cores para embrexados são muitas. O saibro capaz de se fazerem fornalhas e mais necessarios para a factura e fabrico de vidros, queagora se faz de novo, só neste Bispado se achou mais a proposito como é constante.” (Notícias do Distrito de Leiria de 1721 enviadas à Academia Real. Códice do Arquivo da Universidade de Coimbra Nº 503, Leira, ed. O Mensageiro, s. d., pp. 25-26). Cerca de 1850, existiam 55 pedreiras no concelho de Leiria e quatro no de Porto de Mós. Escreve, a propósito, D. António Costa Macedo: “Ha sobretudo no distrito quatro pedreiras de reputação. Uma de marmore preto situada no Alqueidão da Serra, concelho de Porto de Moz. (…) Mais tres no concelho de Leiria, uma de lioz na Opeia, que todavia tem o defeito de ser muitorija; outra de cantaria branca no Val da Quebrada, notavel por ter sido d’ella que se extraiu a pedra comque se fez o edificio da Batalha, e com que actualmente se concerta; (…) e outra enfim, a das Lombas, freguezia do Reguengo, granitico calcario. É excellente. Extrae-se d’ella menos cantaria por ainda não ser muito conhesida (…).” (Estatistica do Districto Administrativo de Leiria, Leiria, Typographia Leiriense,1855, pp. 89-90).

                                                                                                                        DE: SAUL ANTONIO GOMES
COORD.
 ARNALDO SOUSA MELO E  MARIA DO CARMO RIBEIRO
             


Existem dezenas de pedreiras na periferia da aldeia, nomeadamente no Valinho do Rei, Pia Diogo, Covão Cagido, que se julga terem sido exploradas para a construção do mosteiro da Batalha.

Link relacionado: http://www.regiaodeleiria.pt/blog/2010/11/19/turistas-vao-poder-visitar-pedreiras-de-onde-saiu-a-pedra-do-mosteiro-da-batalha/


1 comentário:

Rodrigo disse...

Falta referir que das pedreiras de Valinho do Rei e Pia Diogo, Saiu muita pedra para o mosteiro de Santa Maria da Vitoria. Seria interessante investigar a origem dos nomes destas pedreiras (Valinho do Rei e Pia Diogo).